quinta-feira, 25 de junho de 2009

Época entevista Stephenie Meyer


“Agora meu marido cuida dos filhos enquanto escrevo”

Stephenie Meyer, uma dona de casa mórmon, mãe de três filhos, tornou-se o maior fenômeno da literatura mundial desde J.K. Rowling e seu Harry Potter!

Stephenie Meyer é uma escritora de livros sobre vampiros que detesta histórias de vampiros. Nunca leu Bram Stoker, o clássico autor que consagrou o Conde Drácula. De Anne Rice, a autora da seqüência de bestsellers sobre o vampiro Lestat, Stephenie só leu um livro, no colégio: “Nem me lembro direito”. Assiste a filmes e séries de terror? De jeito nenhum porque diz fugir de tudo que seja impróprio para menores de 18 anos. Como, então, esta pacata mãe de família mórmon, com três filhos, que na arte de escrever nunca havia ido além de trabalhos na faculdade e e-mails para amigos, conseguiu escrever o maior fenômeno literário desde Harry Potter?


Literalmente, da noite para o dia. Num verão de junho de 2003, enquanto dormia com o marido e três filhos na sua casa no subúrbio de Phoenix, no Arizona, Stephenie sonhou com o encontro romântico entre uma adolescente e um vampiro num anoitecer chuvoso. Na manhã seguinte ela, então com 29 anos, começou a escrever as 416 páginas de Crepúsculo (Intrínseca, R$ 39,90), primeiro dos quatro volumes da saga Twilight.


Verdadeiro frenesi entre os americanos, os três livros da série já lançados venderam mais de 7 milhões de cópias nos Estados Unidos, e outros 3 milhões no mundo. Figuraram na referencial lista de bestsellers do jornal The New York Times por 143 semanas. O quarto e derradeiro volume da saga, Breaking Dawn, é o mais vendido no site Amazon.com há dois meses - e será lançado apenas em agosto, com tiragem inicial de 3,2 milhões de exemplares.


“Nunca imaginei tanto sucesso”, diz Stephenie. “Só pensei que talvez pudesse pagar algumas dívidas com o dinheiro”. Tamanho furor, que começa a se alastrar pelo mundo, só foi visto antes com Harry Potter. Stephenie, aliás, parece trilhar o caminho aberto pela criadora do bruxinho mais famoso do planeta, J.K. Rowling. Em maio, foi até eleita uma das 100 pessoas mais influentes do mundo pela prestigiosa lista anual da revista Time, assim como J.K. já foi um dia. Nesta entrevista exclusiva a ÉPOCA, Stephenie Meyer fala sobre o estrondoso e involuntário sucesso de saga Crepúsculo, sobre seu afortunado sonho e o frenesi em torno de seus livros.


ÉPOCA - Como você reagiu à estrondosa repercussão dos livros?

Stephenie Meyer - Nunca imaginei tanto sucesso. Acho que tive uma boa editora (risos). Quando mandei alguns capítulos de Crepúsculo para agentes literários, em Nova York, em 2004, pensava, no máximo, em conseguir pagar algumas dívidas. Nunca essa legião de fãs. Até porque não pretendia ser escritora. E, na verdade, acho que sou mais uma contadora de histórias.


Para alguém que não pensava em escrever, como decidiu pôr Crepúsculo no papel?

A idéia partiu de um sonho que eu tive: um vampiro se encontrava numa floresta chuvosa com uma adolescente. Naquele momento, ele dizia que a amava, mas, ao mesmo tempo, sentia um forte desejo de matá-la. Aquele sonho foi tão real que tive de colocar no papel na manhã seguinte. Comecei a escrever para saber o que aconteceria.


Desde o início a idéia era fazer uma saga de quatro livros, ou foi uma exigência comercial?

Fechei um contrato para escrever uma determinada quantidade de livros, mas tinha toda a história mapeada na cabeça desde o começo. Seria impossível contá-la de uma vez. Um livro de duas mil páginas (risos). Mas desde que descobri como é excitante escrever uma história, não consigo parar.


Como explicar tamanho frenesi do público com a série?

A personagem de meu livro, Bella, é uma garota como outra qualquer. Não é uma heroína, não quer ser a garota mais famosa, nem ter roupas descoladas. É uma adolescente normal, com problemas familiares e sentimentais. Acho que isso chama a atenção, porque na literatura existem poucas garotas normais. E ela é boa e genuína. Para mim, os adolescentes são desse jeito. Pelo menos eu costumava ser desse jeito.


Isso tem a ver com sua religião? Você acha que ser mórmon influenciou seus livros?

Sem dúvida eu era comportada graças à minha religião. Cresci num ambiente em que não era exceção ser uma boa moça. Era isso que se esperava. Minhas amigas eram ingênuas como eu. Meus namorados sempre foram respeitosos. E, claro, isso afeta a maneira como escrevo. Não há muitos caras ruins nos meus livros, e até eles têm algo de bom. Os vampiros são, por definição, monstros, caras ruins. Mas meus vampiros escolhem ser uma coisa diferente. Acredito fortemente nessa idéia que, claro, é fruto de minha religião. Porque, para mim, a história é sobre a liberdade de se fazer escolhas. Essa é a metáfora.


Você usa intencionalmente essa religiosidade na sua obra?

Não. Acho que minhas histórias refletem a minha criação religiosa, e parte das coisas que faço e escrevo se deve a isso. Ainda sou uma pessoa muito religiosa. Sempre vou aos cultos do meu templo e crio meus filhos dentro dessa doutrina, a mesma na qual fui criada. Não bebo, não fumo e evito filmes impróprios. Mas as pessoas se enganam com isso. Não é nada fundamentalista. Eu até bebo Pepsi diet às vezes (risos) [Os mórmons recomendam que se evite a cafeína]. Trata-se de se manter livre de vícios. Apenas isso. O ser humano tem liberdade de escolha, um grande presente divino. Acredito nessa idéia de que todos temos o livre-arbítrio, para fazer o que achamos melhor. Nunca haverá uma circunstância em que não tenhamos uma alternativa. Ou seja: não importa o que aconteça na sua vida, você pode escolher outro caminho.


E por que você escolheu o universo dos vampiros? A adaptação para um público juvenil foi intencional?

Não foi algo intencional. Nunca li romances sobre vampiros, Bram Stoker ou Anne Rice, e nem vi filmes de vampiros. Apenas sonhei e precisei pôr no papel. Mas, depois do primeiro livro, preferi continuar escrevendo sobre um universo sobre-humano. Nós encontramos pessoas normais em qualquer lugar. Isso é o interessante da ficção-científica: ela está repleta de pessoas sobre-humanas, mas com dilemas humanos e reais.


Você disse que nunca viu filmes de vampiros? Nem leu Drácula, de Bram Stocker?

Nunca! Eu acho nojento (risos). Vi trechos do filme Entrevista com Vampiro na TV, certa vez, mas não pude ir até o fim. Não assisto a filmes impróprios para menores, o que reduz totalmente a chance de ver filmes de terror. E nunca li Bram Stoker. Pretendo ler um dia, mas acho meio assustador. De Anne Rice só li um romance, no colégio, e nem lembro qual. Prefiro histórias de amor. O drama humano é a parte verdadeira de todos os livros para mim. A verdadeira emoção. Por isso adoro livros de Orson Scott Card e Jane Austen.


Esses são seus autores prediletos?

Sim. Orson [Scott Card] é meu autor vivo predileto, e Austen a minha escritora predileta de todos os tempos. ÉPOCA - Quais as mudanças no seu dia-a-dia depois de Crepúsculo? Stephenie - Bom, basicamente tudo (risos). Antes do livro eu era mãe e dona de casa, cuidava dos meus três filhos. Passei seis anos com algum dos meus bebês nos braços. Minha rotina era essa. Só escrevia recados para amigos em sites de relacionamentos e e-mails. E lia muito. Lia o tempo todo, quase seis romances por semana. Agora, escrevo das seis da manhã até a noite. E meu marido é que cuida das crianças.


Você acha que seus livros podem incentivar os jovens a ler?

É espetacular encontrar mães com filhas vindo dizer que leram meus livros e adoraram. Era assim que eu e meu pai nos conectávamos na minha infância e adolescência: pelos livros. Às vezes, há três gerações - filhos, pais e avós - lendo meus livros. É muito emocionante. E acho que sim, é uma maneira de incentivar a leitura dos jovens.


Você acha que seus livros são fenômenos literários como Harry Potter? O que acha da comparação com J.K Rowling?

Isso é engraçado. Não me preocupo e não me incomodo. Talvez seja natural, pelo tamanho do sucesso e da repercussão dos livros. Mas quando escrevo meus livros, e quando escrevi os volumes da série, nunca pensei nisso. Meu processo criativo tem sido o mesmo, e me dá muito prazer escrever. Não preciso de muito mais que isso.

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